segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

ANO NOVO, GRAMÁTICA NOVA!

O acordo ortográfico entre toda a comunidade lusófona (países cujo idioma oficial é o português) entrou em vigor no Brasil, em 1º de janeiro, introduzindo três letras a mais no alfabeto, além de levar embora o trema e alguns acentos. A meta obsessiva dos reformistas é diminuir ao máximo as diferenças entre Portugal e Brasil, cobrando de cada país sua taxa de sacrifício.

Antes de prosseguir, acho melhor mostrar aos meus leitores as modificações anunciadas. As mudanças mais significativas alteram a acentuação de algumas palavras, extingue o uso do trema e sistematiza a utilização do hífen.

A primeira conseqüência que me vem à mente nesta primeira sentença: teremos que agüentar uma legião de us sem tremas! Exatamente. Os dois pontinhos desaparecem de cima das palavras, permanecendo apenas em nomes próprios, como Bündchen, por exemplo.

Nosso alfabeto passa a incluir também as letras k, w e y, que continuarão obedecendo às mesmas regras antigas: só nos símbolos científicos internacionais e nos vocábulos derivados de nomes próprios (shakespeariano, por exemplo). A novidade é que agora elas fazem parte do alfabeto oficial e todo mundo precisa saber a ordem alfabética que elas ocupam.

A reforma não hesita em mexer aqui, aparar ali, lixar acolá, numa série de "retoques" que parecem feitos por quem não é do ramo. Isso fica claro nas mudanças feitas na acentuação, insignificantes para trazer uma verdadeira melhora na ortografia, mas amplas o suficiente para perturbar a vida de todos nós — brasileiros, angolanos, portugueses, moçambicanos e os demais irmãos lusófonos.

Num país onde “acento” ainda é sinônimo de cadeira, a reforma ortográfica torna-se tão desnecessária, quanto contribuinte para agravar ainda mais a situação. Antes de reformar é preciso construir, e isso, cá entre nós, é algo que ainda não foi feito no Brasil e na maioria dos países que falam Camões. A deficiência na educação brasileira é tão grande que muitos mal sabem escrever o que já era estabelecido, que dirá diferenciar ou aprender as novas normas existentes.

Com a nova lei entrando em vigor, existe a necessidade imediata de $ub$tituir os livro$ das bibliotecas escolares de todo o país. Isso mesmo! Voltaremos à era das sombras e queimaremos todos os livros já existentes para que outros surjam de acordo com a nova forma padrão.
O único receio de quem vos escreve, caros leitores, é que esse processo demore tanto para atender as mudanças da língua portuguesa que, até lá, já tenham mudado tudo de novo!

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Fim de ano é sempre a mesma coisa!

Toda comemoração de fim de ano começa sutilmente um mês antes da data, subindo o nível de ansiedade das pessoas, à medida que as festas natalinas se aproximam. É um corre-corre danado. Mais parece o presságio do fim do mundo. Atenção, caros leitores, não é; é só o fim do ano que, por sua vez, é sempre a mesma coisa!

Começo falando sobre a decoração de fim de ano. Reparem as milhares de luzes que invadem todas as cidades. Por todo lugar onde você olhe, lá estarão elas: piscando - até te convencerem de que o Natal realmente chegou. Sem contar que, de repente, parece que tudo à nossa volta fica verde e vermelho - os comerciais na TV, as vitrines, os “outdoors”. Até mesmo o saldo bancário resolve entrar na festa: sai do verde e entra no vermelho!

Luzes brilhantes, árvores enfeitadas, promoções de fim de ano por todos os lados. Em cada esquina um velhinho aposentado, usando uma roupa vermelha com uma barriga postiça e distribuindo balinhas. Ah, o Natal. Todo mundo fingi que se sente mais feliz e solidário, sorri por tudo e o espírito do bondoso velhinho de barba branca reina.

A imitação de pinheiro montada onde quer que você vá, te faz lembrar que está chegando a festa de confraternização da empresa que você trabalha. Mas essa festa – pasmem! - também é sempre a mesma coisa. Muito provavelmente aquela secretária chata irá te tirar no amigo-secreto e lhe dar o presente mais cafona do mercado. A empresa irá lhe presentear com um panetone minúsculo – e com gosto de pão mofado – como forma de agradecimento por todas as horas de trabalho que não lhe pagaram hora extra.

Finalmente, quando tudo isso passa, chega então a mais famosa de todas as festas da família: a ceia de Natal. Mas a ceia de Natal também é sempre a mesma coisa. Tem sempre aquele parente de longe que você só encontra nessa época do ano, aquela tia antipática que não perde a oportunidade de lhe alfinetar. Casa cheia, cozinha repleta, muito trabalho, muita comida e muito desperdício!

Mas, passado o trauma da ceia de Natal, vem a festa de réveillon. E festa de réveillon é sempre a mesma coisa – você nunca sabe ao certo como se escreve, só sabe que tem muito champanhe para estourar. Malas prontas e todo mundo corre para a praia, se preparando para a tão esperada virada. E logo começam as superstições. Vermelho, paixão. Amarelo, dinheiro. Verde, esperança.

Quando o relógio avisa que chegou o novo ano, é hora de pular as 7 ondas, e fazer os 7 pedidos.
Dedicar-se aos estudos, ser mais agradável com as pessoas no trabalho, levar a sério aquela dieta de toda segunda-feira, não jogar mais papel na rua... E assim se inicia um novo ano, com velhas promessas de uma vida nova.

O ano começa e, com ele, começa a rotina, e os problemas, e as contas a pagar… E a única coisa que nos resta fazer é esperar pelo próximo ano, pedindo do fundo do coração para que ele seja diferente. Porque os anos que estão por vir, são sempre a mesma coisa. Neles apostamos todas as nossas fichas, todas as esperanças de algo melhor. Até que, no final, a gente sempre acaba levando as coisas do jeito que puder, torcendo para que no ano que vem a vida seja mais fácil. E o panetone, mais gostoso.