terça-feira, 2 de junho de 2009

Dêem a Tarso o que é de Tarso



Em tempos onde o vírus H1N1 deixa o mundo em estado de alerta e as potências globais debatem como punir a Coréia do Norte por suas ameaças nucleares, vou fugir de tudo isso e me dar o direito de escrever sobre Tarso de Castro, um dos mais brilhantes jornalistas brasileiros.


Escrevo sobre ele porque acho que um grande gênio como Tarso não deve se restringir ao conhecimento de estudantes de comunicação e jornalistas. O país precisa ser apresentado ao cara que, com muito talento e uma certa sina por polêmicas, se tornou um mito soterrado pela mídia brasileira.


Não o conheço há muito tempo, afinal, quando eu ousava completar o meu primeiro ano de vida, uma cirrose hepática forçaria Tarso a dar adeus a ela. Na verdade, fui apresentada a ele no último mês, quando uma disciplina da faculdade me forçou a ler um livro que contava minuciosamente a vida desse grande jornalista.

O título do livro escrito por Tom Cardoso soava sugestivo. Tarso de Castro: 75 kg de músculos e fúria. Porém, a imposição não dava espaço para grandes expectativas. Hoje, após
terminar de ler o livro em tempo recorde, tenho que admitir que nada que eu já tenha lido até o determinado momento se compara a incrível história de Tarso.

Pouco se ouve falar sobre ele. Tarso foi quem deu o primeiro sopro criativo na imprensa brasileira, na virada dos anos 60. Jornalista romântico, boêmio e mulherengo, dizia sempre que preferia “viver pela metade por uma garrafa de uísque, do que passar a vida inteira bebendo pela metade.” Foi o que aconteceu, acabou vivendo pela metade por deixar várias garrafas vazias. Em 20 de maio de 1991, Tarso morreu aos 49 anos e deixou uma lacuna no jornalismo brasileiro.

Uma das maiores façanhas feitas por ele na imprensa, foi ter fundado O Pasquim, aquele jornaleco que surgiu em plena ditadura e satirizava o governo em uma época de grande repressão política. E onde foi profissionalmente traído pelo ego de alguns jornalistas que ele mesmo ajudou a “criar”. Millôr Fernandes, o famoso escritor da Revista VEJA, foi um deles.

Tarso era passional em tudo o que fazia. Vivia ou morria por uma causa ou várias saias. Extremista, era capaz de escrever um texto minutos antes da impressão do jornal, sumir em dia de fechamento ou virar a noite na redação. Talvez esse tenha sido o principal motivo pelo qual ele tenha fracassado em diversas tentativas de criar um jornal que se sustentasse por longo tempo. Porém, apesar de, cá entre nós, não ter lá muita disciplina, seu estilo e irreverência eram um marco onde quer que ele estivesse.

Pouca gente conhece Tarso porque ele contraria tudo o que se faz hoje em jornalismo. Em uma mídia cada vez mais padronizada e imparcial, poucos são os que ousam ir contra ela, como ele ia. Tarso nasceu jornalista. Escrevia com a alma, detestava padrões e incomodava como ninguém. Semeou jornais até morrer junto com o Brasil e ser enterrado por ele.

Muita gente se apropriou indevidamente do talento de Tarso, após sua morte, e ajudaram a enterrá-lo na memória do país. Nei Duclós, um grande jornalista, tem uma justificativa para isso. “Tarso era generoso num mundo mesquinho. Pagou alto o preço de ter distribuído seu talento e compartilhado suas vitórias. Acabaram roubando as conquistas dele, sequestraram-lhe o crédito”. Faço minhas as palavras de Duclós. Vaias estrondosas a Millôr Fernandes, Paulo Francis, Jaguar e Ziraldo. Que, apesar de muito provavelmente vocês já terem ouvido falar, sei que não seriam grande coisa se não fosse o “desconhecido” Tarso de Castro.