domingo, 7 de dezembro de 2008

A falta de opções culturais na cidade.

Que o mar não está para peixe, isso todo mundo sabe – mas finge que esquece.
É instabilidade política, econômica, ambiental, crise financeira, disparada do dólar, entre outras milhares de coisas realmente preocupantes. Ora, se vivendo nesse cenário de crise mundial que se prolonga há tanto tempo, ainda existem pessoas que parecem estar acostumadas a ele, imaginem vocês em que pé andam as atividades culturais de nosso país!
Pois bem, para chegar aonde queria, ater-me-ei exclusivamente a nossa cidade, nossa por vezes tão combalida Arapongas.

Os araponguenses, em geral, padecem com a falta de lazer, cultura e entretenimento. Falta recreação, espaços para o desenvolvimento de práticas esportivas, opções culturais, incentivo a novos talentos, lugares que vendam algum tipo de cultura ou que a disponibilizem gratuitamente.

É fato que vira e mexe algumas poucas opções culturais surgem por aqui, impulsionadas por iniciativas privadas, é claro. Mas é latente a maneira como essas iniciativas, além de serem escassas e nem sempre de qualidade, não duram muito tempo e obrigam a população a se deparar com a já conhecida desestruturação no setor cultural da cidade.

Por falar na falta de incentivo a novos talentos, isso, sem dúvidas, merece uma atenção especial. Talvez por ingenuidade em demasia, causa-me espanto adentrar o cotidiano de vários dos artistas residentes aqui. Falo de gente talentosa que não consegue espaço ou, sequer, a mínima estrutura para praticar atividades musicais na cidade. A dificuldade enfrentada por eles para realizar eventos e mostrar seus trabalhos fonográficos é realmente chocante, já que não existe incentivo algum por parte do município.

Diretamente nossos jovens são encontrados procurando algum entretenimento nas cidades da região. Motivo? Falta de opção em Arapongas. Ao contrário daqui, na maioria delas existe um leque de opções que se enquadram nas exigências noturnas de qualquer jovem; seja “show”, barzinho, casa noturna ou até o indispensável cinema – de qualidade, nesse caso.

A falta de espaços para o desenvolvimento de práticas culturais prejudica a qualidade de vida e deixa de contribuir para a socialização, em particular dos jovens e adolescentes, que são deixados à mercê de pouquíssimas e decadentes opções locais. Nesse caso, pela falta do que fazer e pela convivência com uma realidade cultural desalentadora e primitiva, a maior parte dos jovens buscam se refugiar do ócio araponguense em uma das cidades vizinhas, que possuem ao menos, maior variabilidade cultural.

Para nossa sorte, a cultura em cidades vizinhas a cada dia se firma mais e leva não só aos residentes locais, mas também aos araponguenses, inúmeras ofertas de entretenimento de qualidade.
Aos que ainda não possuem a oportunidade de se dirigir até uma dessas cidades e são obrigados a encontrar alguma forma de diversão por aqui, uma pena. Sinto desapontá-los mas, nesse caso, a única opção é esperar até que o poder público enxergue a calamidade e, assim, resolva incentivar a cultura aos jovens araponguenses.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

"Somos gente: dura tarefa. Com sorte, aqui e ali a ternura faz parte" (Lya Luft)

Por vezes tenho a sensação, pouco racional, de que nada nessa vida me surpreende mais.
Antigamente, quando todas as excentricidades individuais do ser humano entravam em cena e, por esse motivo ou por qualquer outro, ele passava a me desapontar, a decepção me engolia, minha culpa inflamava e eu perdia dias e noites por emoções que não eram conferidas no guichê.
Hoje, depois de descobrir que desapontar as pessoas faz tão parte da vida quanto tomar café, lido com a situação naturalmente, sem mais fazer cara de espanto!

Para todas as pessoas que se sentem perplexas sempre que são decepcionadas por outras, sinto dizer: decepção contém no pacote de seres humanos sem qualquer possibilidade objetiva de devolução!

Decepções não acontecem unicamente porque deixamos de fazer alguma coisa para alguém ou porque não somos como a imagem que projetaram de nós. Nem, tampouco, porque somos exigentes demais, ingênuos e esperamos muito das pessoas.
Elas acontecem porque são inevitáveis e porque nenhuma pessoa no mundo veio aqui para satisfazer as nossas expectativas, assim como não pretendemos viver para satisfazer as delas.

A grande verdade sobre decepção é que as pessoas - nas quais me incluo sem hesitar - muitas vezes não sabem o que querem de si mesmas e jogam intoleravelmente suas frustrações nas costas dos outros. Em cima de alguém que obrigatoriamente deveria ter as respostas, mas, na maioria das vezes, não tem. E só depois de inúmeras vezes tentando alcançar a perfeição e deixar de magoar as pessoas é que a gente percebe isso. Percebemos que as decepções surgem, naturalmente e inevitavelmente, porque cada um de nós procura encontrar todas as verdades que a gente mal conhece.

O mundo ao nosso redor é feito de expectativas e nós somos pessoas reais, vivendo uma vida real, repleta de desafios e imperfeições a serem enfrentadas.
Não existe resposta nas páginas do outro e sua verdade não existe em ninguém, a não ser em você mesmo – ou talvez nem isso!

Não tenha medo de se desapontar com as pessoas e muito menos de desapontá-las. Por melhor que a gente tente ser, sempre existirão situações em que seremos decepcionados ou decepcionaremos. O mais importante de tudo, é não permitirmos nunca que nos decepcionemos com nós mesmos, pois isso só a gente tem o perigoso poder de fazer!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O Pálido Ponto Azul


A espaçonave estava bem longe de casa. Eu pensei que seria uma boa idéia, logo depois de Saturno, fazer ela dar uma última olhada em direção de casa. Desde Saturno, a Terra aparecia muito pequena para a Voyager apanhar qualquer detalhe. Nosso planeta seria apenas um ponto de luz, um "pixel" solitário. Dificilmente distinguível de muitos outros pontos de luz que a Voyager avistaria: planetas vizinhos, estrelas distantes.
Mas justamente por causa dessa imprecisão de nosso mundo assim revelado, valeria a pena ter tal fotografia. Já havia sido bem entendido por cientistas e filósofos da Antigüidade Clássica que a Terra era um mero ponto em um vasto cosmos circundante. Mas ninguém jamais a tinha visto assim. Aqui está a nossa primeira chance, e talvez a nossa última nas próximas décadas.

Então, aqui está - um mosaico quadriculado estendido em cima dos planetas e um fundo pontilhado de estrelas distantes. Por causa do reflexo da luz do Sol na espaçonave, a Terra parece estar apoiada em um raio de Sol. Como se houvesse alguma importância especial para esse pequeno mundo. Mas é apenas um acidente de geometria e óptica. Não há sinal algum de humanos nessa foto. Nem nossas modificações da superfície da Terra, nem nossas máquinas, nem nós mesmos.
Desse ponto de vista, nossa obsessão com nacionalismo não aparece em evidência. Nós somos muito pequenos. Na escala dos mundos, humanos são irrelevantes, uma fina película de vida num obscuro e solitário torrão de rocha e metal.
Considere novamente esse ponto. É aqui. É nosso lar. Somos nós. Nele, todos que você ama, todos que você conhece, todos de quem você já ouviu falar, cada ser humano que já existiu, viveram suas vidas. A totalidade da alegria e do sofrimento, milhares de religiões e ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e saqueador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e plebeu, cada jovem casal apaixonado, cada mãe e pai, cada criança esperançosa, inventor e explorador, cada educador, cada político corrupto, cada ”líder supremo”, cada ‘’superstar”, cada santo e pecador na história de nossa espécie viveu ali, numa partícula de poeira, suspenso em um raio de Sol. A Terra é um palco muito pequeno, numa imensa arena cósmica.
Pense nas infinitas crueldades infligidas pelos habitantes de um canto desse pixel nos quase imperceptíveis habitante de algum outro canto. Como são freqüentes seus desentendimentos, como eles estão sedentos por matar uns aos outros, como fervilham seus ódios. Pense nos rios de sangue derramados por todos esses generais e imperadores para que em glória e triunfo, eles pudessem ser os chefes momentâneos de uma fração de um ponto.
Nossas atitudes, nossa imaginária auto-importância, a ilusão de que nós temos alguma posição privilegiada no universo, são desafiadas por este ponto de luz pálida. Nosso planeta é um pontinho solitário na grande e envolvente escuridão cósmica. Em nossa obscuridade, em toda essa imensidão, não há nenhum indício de que a ajuda virá de algum outro lugar para salvarmos de nós mesmos.
Goste disso ou não, neste momento, a Terra é onde estamos estabelecidos. Tem sido dito que a astronomia é uma experiência de humildade e formação do caráter. Talvez não haja melhor demonstração da tolice das vaidades humanas do que essa imagem distante de nosso pequeno mundo. Ela enfatiza nossa responsabilidade de tratarmos melhor uns aos outros, e de preservar e estimar o único lar que nós conhecemos: o pálido ponto azul.

-- Carl Sagan, Pálido Ponto Azul, 1994